As últimas décadas foram marcadas pelo aumento acentuado do consumo alimentar fora de casa nos países Ocidentais, e pelo concomitante declínio na preparação de refeições em casa.
A investigação sobre este fenómeno, em várias disciplinas e países, tem acumulado evidência do seu impacto na qualidade da dieta humana, na insegurança alimentar e na saúde e bem-estar das famílias.
Em consequência, cientistas, organizações governamentais e não governamentais, profissionais de saúde e de culinária, meios de comunicação e boa parte da opinião pública têm vindo a apelar ao regresso à cozinha.
Numa irónica reviravolta dos acontecimentos, foi o COVID-19 que melhor acabou por responder a este apelo e que agora força milhões de pessoas a ficar em casa, e a lidar da melhor maneira possível com o desafio de planear refeições, comprar alimentos e cozinhar para o seu agregado familiar, dia sim, dia sim, em condições extremas.
A restrição da mobilidade, a irregularidade do fornecimento de alguns alimentos, as compras de supermercado limitadas, e a escassez de opções de restauração, em conjunto com a crescente sensação de perda de liberdade, de isolamento social e de rotinas em colapso, bem como dos elevados riscos para a saúde e para a estabilidade financeira trazidos pela pandemia, não poderá deixar de estar a afetar grandemente os comportamentos de preparação e consumo de refeições, principalmente das mulheres, dos idosos e dos economicamente mais desfavorecidos.
Isto coloca a questão urgente de tentarmos perceber como é que todos nos estamos a desenvencilhar na cozinha nesta altura.
O QUE ESTAMOS A FAZER
Fiéis ao nosso lema“As pessoas cozinham. Nós estudamo-las.”, estamos atualmente no laboratório virtual foodbehaviorlab.com, pertencente à CUBE, o centro de investigação da CATÓLICA-LISBON School of Business and Economics da Universidade Católica Portuguesa, a tentar tirar o melhor partido da nossa experiência e dos resultados de projetos de investigação em curso, E-PRIMEMEAL(FCT) and How We Eat What We Eat(FFMS), bem como da nossa rede de cientistas internacionais www.cookandhealth.org, para começar a responder a esta questão.
O QUE É O MAKE DO
O MAKE DO é um programa de estudos longitudinais que investiga as mudanças nos comportamentos de preparação e consumo de refeições que irão necessariamente ocorrer em Portugal, no curto e no longo prazo, em consequência da pandemia de COVID-19.
O MAKE DO contempla estudos de natureza descritiva, preditiva e prescritiva:
Utilizar o modelo COM-B (Michie et al., 2011) para avaliar como as capacidades físicas e cognitivas dos indivíduos para planear, comprar e cozinhar refeições(CAPABILITY), as suas motivações e capacidade de auto-controlo para continuarem a realizar essas atividades(MOTIVATION), e as barreiras e facilitadores que identificam ou experienciam durante as mesmas(OPPORTUNITY) afetam a preparação e consumo de refeições domésticas(BEHAVIOUR), antes, durante e após a pandemia de COVID-19;
Aplicação do conceito de Food Agency (Trubek et al., 2017) na previsão de como os atuais contextos físicos e sociais irão determinar o desenvolvimento de novas competências de planeamento, acquisição e preparação de refeições, e a emergência de uma nova literacia alimentar, e do paper mediador desempenhado pela adoção forçada, acelarada e massiva de tecnologias digitais relevantes, impulsionada pela pandemia;
Criação de ferramentas de visualização gráfica que monitorizam alterações no comportamentode planeamento, acquisição e preparação de refeições domésticas em Portugal, e os fatores que as determinam nos diferentes grupos populacionais, com base nos dados do MAKE DO, prevendo ainda o seu impacte nos principais indicadores de qualidade de dieta, estado físico e nutricional, insegurança alimentar e bem-estar, de modo a informar cidadãos, as empresas e os decisores políticos.
O QUE GOSTARÍAMOS DE FAZER MAIS
Gostaríamos muito de escalar este programa de investigação para outros países, nomeadamente o Brasil. Gostaríamos ainda de poder aumentar a nossa capacidade de acumular e disseminar informação em formato digital sobre a evolução dos comportamentos alimentares durante a pandemia.
CATÓLICA-LISBON School of Business and Economics, Universidade Católica Portuguesa
Entidades
foodbehaviourlab, VAN Marketing & Digital, CUBE – CATÓLICA-LISBON’s School of Business and Economics Research Unit, Universidade Católica Portuguesa, FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, FFMS – Fundação Francisco Manuel dos Santos, Departmento de Nutrição em Saúde Pública – Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), Faculdade de Ciências da Alimentação e da Nutrição da Universidade do Porto (FCNAUP)
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